segunda-feira, 11 de maio de 2009

Pensamentos de uma mente em curto

Passando pela rua, vi os correios. Tive uma vontade enorme de te enviar todas as cartas que lhe escrevi. Desisti no segundo seguinte, afinal de contas nem sei onde estão boa parte delas.
No ônibus havia em indivíduo ao meu lado com um terno de tecido áspero, aquilo roçava no meu braço e me incomodava profundamente. Acho que ele percebeu, acho também que meu incomodo agradava a ele.
O motorista é tão lerdo... é incrível como moro tão perto e tão longe de todos os lugares. De ônibus não moro menos de quarenta minutos de qualquer ponto da cidade. De táxi, nunca estou a menos de R$ 15,00. Queria ter tempo para me locomover a pé ou de bicicleta.
Fui ao show do Caetano ontem, assisti Hamlet anteontem. Muito bom ambos, mas parece que foi numa outra vida. O sono, o desanimo e essa prova estavam fora do meu programa de fim de semana. Prova... nem sei por onde começo.
Está passando jogo do Flamengo, ouço gritos a todo momento, o Cruzeiro [adversário] fez um gol. Não gosto nem desgosto, em MG sou Cruzeirense no RJ engrossei o caldo rubro negro recentemente. Não gosto de futebol, gosto de confraternizar.
Voltando as cartas, escrevi uma, meio longa, tem quatro dias isso. Tive vontade de escrever mais dez desde o minuto em que terminei-a. Passei toda a semana por sua portaria, umas vezes não tinha como escapar, outras tinha – mas não o quis. Desejei esbarrar contigo, mas esse complexo de ermitão da montanha não colabora nem a você me ver atravessar a rua. Te devo coisas, você também me deve, isso não nos faz quites, eu quero as minhas e vou cobrar. Amanhã eu cobro.

terça-feira, 21 de abril de 2009

A camiseta era branca, a chuva caía torrencialmente, mas Anna nem se importava – só não queria que molhasse seus pés. Andava na chuva de volta para casa completamente encharcada, seus pés molharam um pouco, mas ao perceber nem se irritou.
Ele a pegou de carro na porta de casa. Depois de tanto tempo é a primeira vez que o vê de jeans e camiseta. Felipe cortou o cabelo, sua barba estava mais curta.
- Oi.
- Tudo bem?
- Tudo. E você?
- Tudo.
Silêncio. Um beijo longo dentro do carro de Felipe, na porta de Anna. Conversas vãs, fúteis, agradabilíssimas. Ele a olha de um jeito que atravessa sua espinha e o movimento mais brusco que consegue fazer é simplesmente sorrir um sorriso tímido. Quem a viu e quem a vê...
Apenas umas voltas de carro até a hora de voltar para onde se tem que voltar.
- Queria passar muito tempo com você.
- Não parece só me vê correndo.
- Silêncio.
Ela por sua vez queria dizer o quanto gosta de acordar com suas mensagens e que de vez em quando tem até vontade de acordar ao seu lado. Prefere ficar calada, talvez seja muito cedo, melhor perder os anéis do que os dedos, menos arriscado. Anna a muito não arrisca nesse ponto, da última vez que fez, perdeu a mão.
- Você me faz cometer loucuras.
- É a vez dela de fazer silêncio.
Ela repara que ele usa all star, preto, cano longo. Ela gosta, combina com o vermelho desbotado dela – quase rosa. Ele mora em Laranjeiras também, não mora no nove, mas sim no doze. Engraçado, queria ter dito que gostou de vê-lo de all star. Abriu a boca e soltou:
- Me deixa aqui, vou jantar.
- Tem certeza? Está chovendo.
- Sem problema.
Beijo longuíssimo. Ao pé da orelha:
- Te ligo antes de viajar.
- Está bom. Mais um sorriso tímido é solto.
E Anna entra no restaurante.
Pulsar constante
Esquerdo
De batidas graves
Feito o surdo
Que sustenta a bateria

Menos óbvio do que se pensa,
Não é vermelho,
muito menos enquadra todas as matizes possíveis de cores.

É transparente com tonalidades de azuis.
Silenciosamente audível.

Menos vívido que um verde frio
Ou um velho amarelo,
Muito antes sombra de memórias negras.

É transcendente em seus fluidos crus
Intangível e recorrente

Como as frases que escreves em meu corpo
ou como as veias que cortam os seus músculos.
No fim, todos se alimentam do que está proximamente distante.

Pulsar cortante
De batidas grises
Correm frases
feito veias nessa poesia.

Carniça de Jean Menezes e Dandara Renault [21/04/09]

quinta-feira, 26 de março de 2009

Brejeirice posta sob os óculos escuros enormes.
Na verdade, escapa um pouco pelo canto da boca.
Um sorriso.
Todo excesso nunca é demasia.
Borboletas vão voando por dentro do corpo.
Ocupam todo o espaço, por isso não anda - levita.

Um frescor exagerado
Emana de sua boca
Cores exuberantes
Imperam ao seu redor
Foco e exatidão
Em sua atitude

O mundo padece em ter nele tanto paraíso
Deseja-a e só contempla

Escapoli de todos os dedos
Como nuvem
Absorve todos os olhares
Todas as bocas salivam ao tentar pronunciar seu nome
Inefável
Descritível
Embora irretratável
Todo filme se ofusca
Se queima
(seja por calor ou por luz)
Passa rápido
Levanta saias
Tranca cruzamentos
Rompe os hidrantes

Indomável doce fera
Com os olhos corta almas
Com a voz
Nos abre os poros
Com suas mão
Acende-nos.

Deleite...

Carniça de Dandara Renault e Jean Menezes [21/02/08]

segunda-feira, 16 de março de 2009

Elephant Gun

"If I was young, I'd flee this town
I'd bury my dreams underground
As did I, we drink to die, we drink tonight
Far from home, elephant gun
Let's take them down one by one
We'll lay it down, it's not been found, it's not
around
Let the seasons begin - it rolls right on
Let the seasons begin - take the big king down
Let the seasons begin - it rolls right on
Let the seasons begin - take the big king down
And it rips through the silence of our camp at night
And it rips through the night
And it rips through the silence of our camp at night
And it rips through the silence, all that is left is
all that i hide"
Elephant Gun - Beirut

Recados no espelho do banheiro de um casal qualquer

Caro Otto
"Cheguei em casa
toda descabelada
completamente arrependida
do que aconteceu
[...]
Eu não sou nenhuma santa
eu não sou nenhuma santa"
Mas posso agrantir que você não é o coitado que quer tentar ser
Com Carinho,
Anna.

segunda-feira, 9 de março de 2009

SSB - Spam Benigno Blogosférico

Bom, eu tive a honra de recebê-lo da Anna Duzzi. É uma tarefa duplamente árdua: falar de mim e selecionar sete blogs. Tomei uma resolução, serei bem sincera e não escolherei sete, mas três blogs. Sete é um número muito alto.

* As regras deste selo são:*

a) Ao receber o selo, listar 7 coisas que te fazem sorrir.

b) Indicar o selo a 7 blogs que fazem você sorrir.

c) Informar aos blogs indicados que eles receberam o selo.

#Sete coisas que me fazem sorrir#
  1. Cheiro de chuva batendo no chão de terra;
  2. Ouvir minha mãe me chamando de minha filha;
  3. Ver a cara de apixonado do meus cães quando fico muito tempo sem vê-los;
  4. Receber uma ligação/ mensagem de uma pessoa inesperada;
  5. A confusão dos almoços em família lá em casa;
  6. Sair para dançar com os amigos;
  7. Ouvir um sonoro, sincero e desinteressado: "Você está linda!"

PS: Não é necessariamente nessa ordem!!!

*As regras deste selo são:*

a) Ao receber o selo, listar 6 coisas aleatórias sobre você.

b) Indicar o selo a 6 blogs que fazem você sorrir.

c) Informar aos blogs indicados que eles receberam o selo.

¨Seis coisas sobre mim¨

  1. Amo chocolate.
  2. Apaixono e desapaixono com a mesma facilidade.
  3. Quero tudo ao mesmo tempo.
  4. Tenho medo de morrer antes de conseguir fazer tudo que quero.
  5. Sou a indecisão em pessoa.
  6. Quando sou boa, sou boa, quando sou má, sou melhor ainda.

Os blogs são:

Vai um cafézinho aí?! - Mauro Morais

Anna Palíndroma - AnnA Duzzi [essa grafia é minha mesmo]

POR-HEART - Harley Arruda

segunda-feira, 2 de março de 2009

Carnaval

Não sei mesmo porque todos dizem que o carnaval é a festa da fantasia. Sim, ok. Por um lado com toda certeza o é: compramos fantasias para pularmos durante oitenta minutos junto a caminhões tão fantasiados quanto. Nas ruas também vemos gente que improvisa fantasia com meia dúzia de acessórios e parangolés.
Mas paremos de gastar tinta e papel e falemos de nós e não do exterior. Durante dez dias [quatro oficiais e seis com nosso jeitinho] somos puros como cristais, não iludimos ninguém, e o melhor, não nos iludimos! Falamos, fazemos, corremos e pulamos apenas movidos por impulso, vontade. A regra que vale é ser feliz plena e verdadeiramente e proporcionar ao ser humano mais próximo o mesmo êxtase.
Nos outros trezentos e cinqüenta e cinco [às vezes seis] dias do ano carregamos uma pesada fantasia. Com cabeça feita de seriedade excessiva, o corpo de solidão e o resplendor de falsos pudores. Dançamos ao som dos absurdos, que ao invés de cantados são engolidos a seco junto com todos os antidepressivos. Nos quesitos loucura e stress todos tiramos quatro notas dez e levamos estandarte de ouro.
E ao perguntar nas ruas o que as pessoas fazem só terá como resposta: me guardo para quando o carnaval chegar.
Por isso digo e repito. A festa de Momo é a festa da alegria e do real. Somos nós e pronto, sem olhares e sem recalques. Límpidos feito água, leves como pluma. Viva ao carnaval, viva a sobriedade.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Lindeza


Outro dia Anna escutou a música que não poderia escutar em um café qualquer em Copacabana. Entrou correndo e la´estava Caetano Veloso cantando e tocando violão, estava no verso “uma alegria pra sempre”. Foi o bastante para deixá-la sem norte. Todos os momentos, todas as brigas, pareceram tão insignifantes, foram todas provas de um insensato e imaturo amor. Que ali, naquele momento, olhando para o nada, em frente a garçonete, se perguntava aonde andava. O dela e o dele.
[...]
As vezes escuta a música, repetidas vezes, se fazendo sempre as mesmas perguntas. Por onde andaria os amores ditos tão grandes e tão esternos. Se ele de fato existiu um dia. Ela na gostaria de perguntar o que de fato aonde os dois se perderam um do outro. Mas para isso teria que ter mais do que coragem. Ela apenas não seria o bastante. Na verdade não sabia o que mais era necessário.
[...]
Você deseja alguma coisa? Pergunta a garçonete tirando-a do transe.
Hã? Ah! Sim, claro. Uma fatia de bolo de chocolate e uma Coca Zero.
Prontinho.
Obrigada.
O chão ainda não voltara para debaixo dos seus pés. A música já tinha acabado já alguns minutos. Não adianta, existem momentos em que as coisas se tornam mais fáceis e eficientes se as respostas não forem dadas.
Anna deu uma garfada no bolo e um gole na Coca Zero. Engoliu, finalmente.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Pra sempre não existe.

"Eu vi quando você me viu,
seus olhos pousaram nos meus num arrepio sutil.
Eu vi,
pois é, eu reparei!
Você me tirou pra dançar
sem nunca sair do lugar
Sem botar os pés no chão,
sem música pra acompanhar.

Foi só por um segundo, todo o tempo do mundo,
e o mundo todo se perdeu ...

Eu vi quando você me viu,
seus olhos buscaram nos meus
o mesmo pecado febril.
Eu vi, pois é, eu reparei,
você me tirou todo o ar pra que eu pudesse respirar.
Eu sei que ninguém percebeu, foi só você e eu.

Foi só por um segundo, todo o tempo do mundo,
e o mundo todo se perdeu...
Foi só por um segundo, todo o tempo do mundo,
e o mundo todo se perdeu ...

Ficou só você e eu."

A música a balançava devagar. Olhos fechados. Cabeça pendida para trás. Taça de vinho na mão direita. Pés descalços. Dançava de um lado para o outro na sala. Rindo do presente, gargalhando do passado. Passando a mão pelos cabelos, agora três anos mais longos. Colocando a mão na cintura, três anos mais marcada.
Aqueles olhos azuis. Como desejou por tanto tempo reencontrá-los. Todo o passado parecia outra vida. O mundo tinha mudado tanto... crise mundial, vestibular, mudança de casa, volta para o casamento, nova separação... Finalmente ali, ambos preparados para terminarem o que começaram.

- Por que não me beija logo? Disse Anna sorrindo levemente.
- Não sei se devo.
- Se não deve, por que está aqui então?
- Para te ver. Acho que não podemos continuar.

E foi assim que os papéis se inverteram. Anna era a mulher segura e decidida, ele o homem trêmulo. De pé mesmo deu-lhe um beijo com gosto de vinho tinto seco e desejo. Talvez até tivesse saudade naquele beijo, mas o desejo era maior.Como o previsto o homem com cara de mau e olhos azuis se derreteu e sucumbiu aos olhos amendoados de cílios longos.
Depois de longo silêncio ele responde a pergunta que ela não ousava se fazer.

- Eu não podia ter feito isso antes. Você é especial de mais para mim, não poderia ser mais uma. Esse é o nosso momento, essa é a nossa hora. Teríamos estragado tudo.
- Não disse nada.
- Mas pensou.
- Poderia ter sido tudo tão diferente.
- Algumas histórias não precisam se repetir. Agora somos dois adultos.
- Está falando da mãe do Henrique?
- É. Com você eu quero ser feliz. Não vou errar. Para isso não podemos ficar perto.

No dia seguinte a despedida. No abraço apertado, tudo o que não deu tempo de falar.

- Se cuida. Depois do carnaval eu volto.
- Você também. O natal é depois do carnaval, aparece antes.
- Está bem.

Se abriu a porta, se abriu o portão – tudo no mais puro silêncio. Ele indo pelo corredor pensando não se sabe pensando em que. Talvez na mesma coisa que ela. Que só dariam certo no tempo daquela música, de tempos em tempos, sem nenhum para sempre.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009



“Que só eu que podia, dentro da tua orelha fria, dizer segredos de liquidificador” . Com a xícara de chocolate quente Anna pensava nas vezes em que disse seus barulhentos e desconcertantes segredos.

Aquele dia, naquela cama. Não fora ela, mas sim ele.

Eu te amo. Eu precisava dizer isso.
Assim. Calmo, baixo e sonoro. Soou como um trovão aos ouvidos da garota de mãos e pés gelados.

A música tocava e Anna só ia lembrando deles. “Eu protegi seu nome por amor” . Quantas e quantas vezes não se pronunciou na tentativa de manter segredo... em vão ambos sabiam que todos tinham certeza do que acontecia.

Nós dois sonhávamos acordados. Pensou ela. Tivemos filhos, moramos em um barco. Assim não sentíamos as dores da realidade. No mundo que se teria que enfrentar, de todas as decisões, de todas as explicações e todos os pedidos de desculpas.

Nada os resumia mais naquele momento do que aquela música. Educados agora, como se nada tivesse ocorrido meses a fio. Como se realmente a amizade tivesse sido o único sentimento que os entrelaçasse e que mágoa era algo inexistente no coração de ambos.

Tantos segredos barulhentos. Tantas juras eternas. Sonhos e sonhos foram ficando esparsos e se desmanchando até se desfazerem como espuma. “A emoção acabou, que coincidência é o amor”

Anna, Júlia e Guilherme; Anna, Júlia e Otto

Júlia se entupia de sorvete de café em uma cafeteria de Copacabana. Pensava em Carolina que odiava seu nome. Ela também odiava o seu. Era nome de quem faz assistência social. Emprego nobre, entretanto, piegas e sacal.
Pensava também em seu marido e em seu antigo namorado. Fora traída pelos dois. Ambas as amantes se chamavam Anna. Coincidência? Talvez... talvez fosse também coincidência o fato de tanto Guilherme quanto Otto terem a mesma profissão.

Júlia comia mais sorvete de café com manga.

Descobrir agora, depois de ter perdoado o marido, depois de ter relevado Guilherme e mantido a amizade – descobrir que se tratava da mesma Anna era demais para sua cabeça. Qual seria o seu problema? Qual seria o problema de Anna? Quem sabe ela fosse apaixonada por Júlia e se divertia em vê-la histérica se perguntando qual era o seu problema ou por que só olhava para as pessoas erradas. Mas poderia ser simplesmente destino. De alguma forma elas estivessem fadadas a disputar pelas mesmas coisas.

Moça! Traz mais um, por favor, agora acrescenta chantili.

O que a deixava aflita era o fato de que talvez Anna não soubesse da colisão das duas. Tinha certeza de que ela sabia que as coitadas tinham o mesmo nome. Mas afirmar o fato de saber que as coitadas eram na verdade uma só são outros quinhentos.

Moça! Olha põe castanha e cauda de chocolate.

Tomou o sorvete correndo e resolveu ir para casa antes que Anna chegasse. O que importa saber se ela é bonita, feia; magra, gorda; inteligente, burra. O fato é: seu melhor namorado e seu marido se encantaram coincidentemente pela mesma pessoa.
A única coisa que restava era descobrir o que faltava em si e sobrava nela. Teria todo o tempo mundo para descobrir.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Sentada com sua calça de malha cinza, sua camiseta branca sem maga, o cabelo um tanto quanto desarrumado e brilhando de suor por conta da musculação lá estava Anna sentada numa temakeria de bancos laranja em Copacabana. Estava em uma mesa baixa na calçada. De pernas cruzadas olhava o trio da mesa da frente: uma mulher gorda e loira irritada com alguém e falando as piores coisas possíveis desse ser humano que nem Deus sabe quem é que comia um sorvetão amarelo da sorveteria italiana; um homem que estava completamente de costas para ela concordava com tudo calado e tomava um nestea; e por último a outra mulher, um pouco mais magra, um pouco menos loira que abocanhava um koni de camarão.
Esperando seu koni de frutas percebe um homem. O homem mais bonito que já vira em sua vida. O mundo parou para observá-lo, só ele se movimentava freneticamente com uma caneta bic vermelha nas mãos. O homem branco, de cabelo graúna e extremamente comprido e camisa branca tinha o sorriso rasgado e olhos cor de mel. Estava acompanhado de dois amigos, um com cara de peruano [tinha cara de Pablo] e um outro que fumava com cara de nada. Ah! Ele tinha cara de tudo. Não se pode explicar tal visão, ele falando e anotando, sentado numa mesa atrás do trio fofoqueiro. Anna o olhava com cara de admiração, não sentia desejo, nem nada só queria guardar o êxtase de tal visão. Teve vontade de ir lá dizer o quanto seu rosto mudara sua vida, mas teve medo de parecer patética – ficou quieta.
Fez apenas o que poderia fazer: olhar. Até que ele percebeu sua simples presença e retribuiu os olhares como quem dissesse: Obrigada, entendi o que quis dizer. Mas Anna simplesmente não conseguia parar de olhá-lo e isso começou a causar um ar de riso no homem.
Coube a Anna a mudar de lugar e vê-lo de outro ângulo, não perderia a oportunidade de sugá-lo de todos os prismas possíveis. E assim o fez. Se lembrou de uma amiga, que certa vez viu uma mulher num cyber café e queria saber o nome dela. Anna também quis saber o nome dele, mas não perguntou. Essa sua amiga não descobriu, só que, ao menos, falou com a mulher.
Anna saiu andando para casa ainda extasiada pensando que sua amiga era mais corajosa que ela.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Anna abriu os olhos e se viu imersa no branco daquele quarto gélido. O ar-condicionado congelava até sua alma, mas isso não a causava incomodo. Nada a causaria incomodo. Pensava apenas que o colchão da cama era uma delícia e na preguiça de ter que levantar. Arthur ainda estava ao seu lado, dormindo. Ah! A menina não acreditava que tal fato fosse realidade. Aqueles cabelos loiros e todos os traços firmes e harmoniosos de seu rosto e corpo a menos de quinze centímetros de distância de sua mortal pessoa. O Apolo repousava ao lado de sua Dafne que nesta história também fora persuadida pelo cupido.
Parecia não acreditar que tudo aquilo era realidade, até que se ouve um bom dia com sotaque engraçado. Um sorriso largo de ambos os lados. Não se precisa falar muitas coisas nesses momentos, por mais que se queira às vezes no silêncio se tem as melhores conversas. Mas sempre há algo que precisa ser dito, por mais que a outra parte já saiba. E foi então, que depois de risinhos, “muitos beijinhos e carinhos sem ter fim” que o gigante começou a tentativa de aparar qualquer possível aresta que houvesse entre eles – com todos os defeitos de português corriqueiros a ele.
- Anna, você sebe que meu tem é curto aqui. E não vai ser todo fim de semana que vamos ficar juntos, tenho meus amigos e que sair com eles. E tenho que descansar muito, tenho que pensar no meu carreira. Carreira?! Mas não sou de muitas mulheres...
- Minha carreira.
- Minha carreira. Excelente!
- Olha só, você tem que dividir seu tempo entre sua carreira, seus amigos e eu. Mas só você vai dizer quanto tempo vai dedicar a cada um deles. Quando quiser me ver me liga. Não estou aqui para te prejudicar nem competir com ninguém e muito menos te cobrar nada...
- Obrigado por me entender. Que bom que você entende...
E assim Anna saiu do apartamento de Arthur. Ele a levou até a porta, a colocou num táxi. Ambos com um frescor diferente nos olhos. Não se precisaria falar muito mais do que foi dito, não precisariam dar muitas explicações. O não dito pode dizer muita coisa.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009



Carolina passava margarina no pão francês ainda dormindo, meio sonâmbula, era para combinar com o pão. Este tinha sido comprado na madrugada anterior num mercado 24h. Sua cabeça latejava e, sua boca excessivamente grande abria ao seu máximo a cada cinco segundos..
A água fervia e precisava levantar para seguir para o seu trabalho infestado de gente medíocre. O café serviria para ajudá-la a despertar, entretanto o fato de ter que se levantar, se mover um milímetro que fosse além do movimento débil do passar a margarina a deixava mais cansada. Assim seus olhos pendiam e a cabeça girava como um pião.
Começou em pensar em seu nome. Nome sem graça. Sem força. Tentou lembrar das músicas legais com o seu nome – a única coisa que conseguiu foi escutar o refrão de Carolina do Seu Jorge, onde se dizia “Carol, Carol, Carol; Carol, Carol, Carol; Carol, Carol, Carol; minha menina; menina bela”. Exatamente assim: com três estrofes com três vezes o seu infame apelido: Carol. E o máximo que conseguiam dizer da criatura era minha menina; menina bela. Isso a irritava profundamente. Nome de quem faz jornalismo, publicidade... ou até pior... direito! Queria ter nome de mulher de trupe de circo, exceto o nome da mulher barbada. De cigana com sua saia rodada e seu olhar de névoa.
Decidiu mudar de nome, adotar o nome que sua alma escolhesse. Carolina personificava a mãe dela. Pura, casta, e puritana; correta, sensata e educada. Ela não abaixava os olhos, falava forte estava decidida a morar em Amsterdã e tatuar no corpo a seguinte frase: “O grande escândalo sou eu”.
Pensou em Dulce, Sandra, Carmela, Dandara, Anna, Jordana, Nualla,Carmem... nomes não paravam de surgir em sua mente que a esta altura não estava mais tão cansada. Teve até força para terminar o café e comer o pão francês, sair para trabalhar e decidir que teria todos os nomes do mundo.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Não faz mal [When love breaks down]


O amor se vai,

e não percebemos

o que aconteceu.

Tantas vezes tivemos medo.

Para agora ver que não fez mal.


Olhar para trás tem o seu segredo,

foi bom o que passou.

Não me arrependo dos meus erros.


Agora eu sei:

hoje acabou.


Não faz mal, eu fiz de tudo,

mas toda história tem final.

E não há sol sem temporal.

Não faz mal, eu fiz de tudo

por esse amor que se perdeu.


Eu devo tanto,

tanto você fez

para hoje serquem sou.

Se agora penso desse jeito,

você pensou, também pensou.
[Paddy McAloon / Versão: Biquini Cavadão]
Anna mais uma vez se via perdida em meio todo turbilhão. Parecia sentir que as pessoas a olhavam com se a polícia andasse atrás dela. Queria apenas dizer a verdade, mas essa justamente era o principal dom da ilusão. A dúvida era o turbilhão e, depois de se confundir mais e mais com o passar dos dias, no fim de uma noite qualquer só pensava no colo de Otto. Talvez toda essa dúvida estúpida fosse uma desculpa esfarrapa para continuar na ridícula situação por qual passou durante os últimos meses.
O amor só faz sentido quando pode ser propagado pelo mundo. Caso contrário, qual é o seu sentido? Afinal, andar de mãos dadas na beira da praia seria algo que Otto não a proporcionaria nunca e esse momento a morena dos cabelos ao vento e unhas vermelhas sempre esperou, bem como na canção de Caetano... momentos para relembrar... histórias para contar...
E aqueles olhos azuis, com aquele ar alegre e inocente. Todo aquele sorriso aberto para o mundo. Arthur tinha algo que a sugava e não sabia bem ao certo para onde. Só tinha a certeza que ao estar ali, naquele sofá, naquela noite de sábado só a faria mais confusa no fim da noite. Mas todo o mistério que envolvia Arthur a agradava, seu mundo louco de possibilidades e histórias a fazia enlouquecer.
Do outro lado havia todo o carinho e estabilidade com André, cara pacato, muito mais próximo do seu mundo. Mas que vinha junto com uma série de perguntas e frases não ditas. Estas pelo medo de interromper os momentos agradáveis dos últimos tempos. Mas todos esses pequenos silêncios incômodos uma hora se tornam palpáveis, eis aí o perigo. Todo o romance com André estava disposto sobre um castelo de cartas, basta um sopro. E ela previa um vendaval...
Na realidade Anna não fazia idéia do próximo passo a dar. E mesmo que toda história tenha final, ainda não sabia ao certo o segredo de olhar para trás. Certas músicas ainda não poderia ser escutadas, frases lembradas, nomes pronunciados. Otto ainda era um passado demasiadamente recente e Arthur e André incógnitas a serem decifradas em seus aspectos.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Imoralidades que todo homem deve cometer diariamente para a manutenção de sua saúde:


1- Transgredir os sete pecados capitais.
2- Repetir o doce mesmo deixando a refeição.
3- Apertar a mão de alguém que não vale nada só por conveniência.
4- Trocar o certo pelo muito duvidoso.
5- Ir dormir depois do que se deve, acordar sabendo que está atrasado e mesmo assim olhar por cinco minutos pela janela.

Por mais que se espere,
Sempre sobra um segundo.
Mesmo que se corra,
Falta um minuto.
O tempo pode ser binário ou ternário,
Eu gosto mesmo dos centenários...

PARA NÃO MORRER




ANTÍDOTOS:

Reflexão
Exercícios
Dietas
Badalação
Vida
Rede
Coração




VENENOS:


Sonohos
Apatia
Ninfomania
Amor
Utopia
Trabalho
Racionalidade

Quero uma paixão livre
Escrita a lápis numa folha branca
Com aquela letra bem jogada.
Um tipo fresco que nem a bossa nova
Forte como a tropicália
Tão charmosa quanto o samba

Andar à beira mar sob a garoa
Mergulhar na água gelada
Bater queixo
Esfregar os braços
Dar pulinhos
Gritar: - Que frio!
E mergulhar de novo
Puxando você
Mesmo de cinto e sapato.

Caminhar descalço no asfalto, admirar os carros invejosos.
Dançar uma música que toca somente em nossas cabeças
Enquanto esperamos o sinal ficar verde para nós.

Cair de costas na grama
E gargalhar com as mãos sobre a barriga.

Apertar os olhos
Pra te ver duplicado
Fora de foco
(nova maneira de te admirar).

Correr em círculos ao teu redor
Só pra ver tua expressão
Tonta
E te observar sob mil ângulos
Mil prismas e mil vezes mil cores.

Gritar bem alto
E reconhecer no eco a tua voz:
Resposta distante,
Longe,
Longe,
Longe,
Longe...



Dandara Renautl e Jean Menezes

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Essa menia chamada...

Meu amigo me disse: Dandara, o amor é elegante.

Concordo em gênero, número e grau. Concordo também quando diz que as paixões são mais interessantes. A paixão tem os pés descalços, as unhas pintadas de vermelho, uma saia longa rodada que anda amarrada em um dos lados para deixar livre as pernas. Às vezes solta o nó e a segura pelo meio. De camiseta de alça branca e cabelos incrivelmente cacheados brinca de um lado para o outro. Dançando, rodopiando e com aquele olhar de ressaca... Machado a viu brincando em alguma rua do centro da cidade e imaginou Capitolina com os olhos da Paixão – porém essa menina é muito mais velha e com muito mais frescor.
Cansa-se rápido e facilmente. Chega faz festa, canta te leva pela mão e de repente: te solta os dedos. Mas por sorte essa menina espevitada prova do próprio veneno... se encanta por algumas pessoas e toda vez que se
desvencilha dela dá logo um jeito de voltar.
Volta com uma nova brincadeira, uma nova dança, uma nova música, com um novo sorriso e os olhos transbordando em êxtase. E nessa ciranda deliciosa me deleito enquanto não soltar minha mão.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O Rio de Janeiro em janeiro no Leblon

A paisagem é no mínimo perfeita. Até os pombos chatos se adequam ao esquema. Tudo é muito curto, muito breve, muitíssimo fulgaz.
As nuvens disformes atrás do sol que está atrás do Morro Dois Irmãos, que está do meu lado direito e ao lado direito também do Vidigal.
O mar lambe mansamente a areia. Areia esta que serve de parque para as crianças, de cama para aqueles que dormem, de quadra para aqueles que jogam, de pista para os que correm, de ganha pão para o gari e para o ambulante e finalmente de palco para todos.
O calçadão, a ciclovia, a pista de carros. Tudo passarela democrática. Há quem mereça estar nela, há quem mereça sumir, mas apesar disso tudo – tudo é belo! Tem gente que corre, tem gente que anda, outros tiram fotos. O que mais tem é gente. Ah! Esses turistas... se para mim é isso tudo imagina para esses forasteiros...
O mar não está para peixe, nem para prancha, mas tem cão querendo nadar.
Eu de saia e salto sentada na calçada agradeço a Deus até a névoa chata que afeta o laranja da tarde.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Reconciliação


- É senhor Otto não há mais jeito, já não se pertence por completo. Eu ,Ana, tenho metade de seu coração e de sua alma, bem como eu já não sou minha por inteiro. Você também tem metade de meu coração e de minha alma. Caso fiquemos longe um do outro, morremos. Disse Ana sorrindo em um tom de deboche.
- Você acha? Disse Otto de forma vazia.
- Tenho. Absoluta.
- Se você acha...
Ela se calou, não ia entrar nesse mérito. Ambos sabiam que essa era a verdade absoluta. Uma poucas das que existem no mundo. Principalmente depois do que ocorrera nos últimos dias. Passaram uma semana infernal, de uma hora para outra tudo voltou ao mecanicismo de outrora, a beleza se tornou superficial e a vida ficou apenas a sucessão de dias – um após o outro, sem um sentido maior.
A reconciliação não foi das mais calorosas, mas não significa que não fora das mais bonitas. Na lanchonete onde freqüentavam sempre freqüentaram para sonhar desta vez foi para conversar, acertar os ponteiros – como dizem por aí, mas em alguns minutos o passado foi, e pronto. Virou passado. O que importava ali era apenas novamente eles dois.
Os planos de casa, filhos - tudo ali naquela lanchonetezinha do centro da cidade.