terça-feira, 21 de abril de 2009

A camiseta era branca, a chuva caía torrencialmente, mas Anna nem se importava – só não queria que molhasse seus pés. Andava na chuva de volta para casa completamente encharcada, seus pés molharam um pouco, mas ao perceber nem se irritou.
Ele a pegou de carro na porta de casa. Depois de tanto tempo é a primeira vez que o vê de jeans e camiseta. Felipe cortou o cabelo, sua barba estava mais curta.
- Oi.
- Tudo bem?
- Tudo. E você?
- Tudo.
Silêncio. Um beijo longo dentro do carro de Felipe, na porta de Anna. Conversas vãs, fúteis, agradabilíssimas. Ele a olha de um jeito que atravessa sua espinha e o movimento mais brusco que consegue fazer é simplesmente sorrir um sorriso tímido. Quem a viu e quem a vê...
Apenas umas voltas de carro até a hora de voltar para onde se tem que voltar.
- Queria passar muito tempo com você.
- Não parece só me vê correndo.
- Silêncio.
Ela por sua vez queria dizer o quanto gosta de acordar com suas mensagens e que de vez em quando tem até vontade de acordar ao seu lado. Prefere ficar calada, talvez seja muito cedo, melhor perder os anéis do que os dedos, menos arriscado. Anna a muito não arrisca nesse ponto, da última vez que fez, perdeu a mão.
- Você me faz cometer loucuras.
- É a vez dela de fazer silêncio.
Ela repara que ele usa all star, preto, cano longo. Ela gosta, combina com o vermelho desbotado dela – quase rosa. Ele mora em Laranjeiras também, não mora no nove, mas sim no doze. Engraçado, queria ter dito que gostou de vê-lo de all star. Abriu a boca e soltou:
- Me deixa aqui, vou jantar.
- Tem certeza? Está chovendo.
- Sem problema.
Beijo longuíssimo. Ao pé da orelha:
- Te ligo antes de viajar.
- Está bom. Mais um sorriso tímido é solto.
E Anna entra no restaurante.
Pulsar constante
Esquerdo
De batidas graves
Feito o surdo
Que sustenta a bateria

Menos óbvio do que se pensa,
Não é vermelho,
muito menos enquadra todas as matizes possíveis de cores.

É transparente com tonalidades de azuis.
Silenciosamente audível.

Menos vívido que um verde frio
Ou um velho amarelo,
Muito antes sombra de memórias negras.

É transcendente em seus fluidos crus
Intangível e recorrente

Como as frases que escreves em meu corpo
ou como as veias que cortam os seus músculos.
No fim, todos se alimentam do que está proximamente distante.

Pulsar cortante
De batidas grises
Correm frases
feito veias nessa poesia.

Carniça de Jean Menezes e Dandara Renault [21/04/09]