Júlia se entupia de sorvete de café em uma cafeteria de Copacabana. Pensava em Carolina que odiava seu nome. Ela também odiava o seu. Era nome de quem faz assistência social. Emprego nobre, entretanto, piegas e sacal.
Pensava também em seu marido e em seu antigo namorado. Fora traída pelos dois. Ambas as amantes se chamavam Anna. Coincidência? Talvez... talvez fosse também coincidência o fato de tanto Guilherme quanto Otto terem a mesma profissão.
Júlia comia mais sorvete de café com manga.
Descobrir agora, depois de ter perdoado o marido, depois de ter relevado Guilherme e mantido a amizade – descobrir que se tratava da mesma Anna era demais para sua cabeça. Qual seria o seu problema? Qual seria o problema de Anna? Quem sabe ela fosse apaixonada por Júlia e se divertia em vê-la histérica se perguntando qual era o seu problema ou por que só olhava para as pessoas erradas. Mas poderia ser simplesmente destino. De alguma forma elas estivessem fadadas a disputar pelas mesmas coisas.
Moça! Traz mais um, por favor, agora acrescenta chantili.
O que a deixava aflita era o fato de que talvez Anna não soubesse da colisão das duas. Tinha certeza de que ela sabia que as coitadas tinham o mesmo nome. Mas afirmar o fato de saber que as coitadas eram na verdade uma só são outros quinhentos.
Moça! Olha põe castanha e cauda de chocolate.
Tomou o sorvete correndo e resolveu ir para casa antes que Anna chegasse. O que importa saber se ela é bonita, feia; magra, gorda; inteligente, burra. O fato é: seu melhor namorado e seu marido se encantaram coincidentemente pela mesma pessoa.
A única coisa que restava era descobrir o que faltava em si e sobrava nela. Teria todo o tempo mundo para descobrir.
Sorvete e chantili...
ResponderExcluirÉ um bom começo para fechar as feridas.
Belo texto!
Abraço!