sexta-feira, 21 de novembro de 2008

3 por 3


É trindade, mas não é nada santa.
Tríade mais que perfeita.
33.

Triangulo amoroso de seu Flor com sua duas mulheres.
Tem rosa e Manjericão.
O último tempero somos nós mesmos.


Três. Número primo. Só se divide por ele mesmo.
Se mantiveram divididos em MA, MG e RS.
Só para se encontrarem no RJ e se tornarem um.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Dadá


O quarto na penumbra da luz azul vinda não se sabe de onde. A outra é lá do corredor, caso contrário ficaria muito escuro. Depois de tudo feito, mas não acabado, o corpo deitado sobre o outro corpo.
- Sente como meu coração bate forte
- Estou sentido. É bom de sentir.
A música no rádio é mero pré-texto, ninguém escuta, simplesmente está exercendo sua nobre função de ser ignorada. Para que um dia toque novamente em Zurique ou Moçambique; Paris ou Londres... não precisa tão distante, basta em Juiz de Fora ou BH e a frase volte. [É bom de sentir].
Se apegar não pode, entretanto a toalha está lá, pendurada ao lado da outra para deixar a marca.
Sexta eu volto, passamos o dia juntos. Você diz isso porque ainda não somos namorados. Ah! Então vamos namorar? Vou acabar me mudando para cá. Ia adorar!
Tantas frases soltas, mas tantas frases agradáveis. O mau humor foge ao vê-la. Passa longe. O riso toma conta de tudo, bem como o cheiro de chocolate do creme de corpo da morena mais linda.
Não interessa o futuro. Pela primeira vez a solidão passa longe da porta da dona da casa. E se ela voltar, pelo menos ela se divertiu. De verdade, como nunca.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008


"Vênus favorece os ousados"


Ovídio - Poeta italiano

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Carmim

Acordou um pouco mais despenteada do que foi dormir, o cabelo não estava nem preso nem solto por completo. Sentou-se na cama em absoluto silêncio, olhou em volta e tudo continuava do mesmo modo: revirado. Levantou, ligou o rádio e mesmo assim não proferiu nem o costumeiro bom dia ao radialista que dava as manchetes entre suas músicas favoritas. Perambulou de camiseta branca e calcinha rosa pela casa e toda a bagunça parecia não lhe afetar. Abrir e fechar a geladeira no automatismo de quem procura lago que sabe que não está ali se repetiu como um mantra, bem como nos outros dias.
Finalmente chegou ao banheiro. Tirou a camiseta branca, a calcinha rosa e abriu o chuveiro. Regulou a água, ou ao menos tentou – achava isso simplesmente um saco. Isso tudo sem meter os olhos no espelho, coisa quase impossível considerando o número deles espalhados pela casa. Mas ao fazê-lo tomou um susto. O batom vermelho sangue ainda estava intacto e ao relembrar a noite anterior sua reação foi correr para verificar sua carteira de identidade. Alívio imediato. Não se chamava Carla. Ela odiava esse nome, nome de puta. Nada contra as putas e não que toda Carla seja puta, entretanto caso quisesse se tornar uma esse seria seu nome de guerra. Só que o batom carmim a dava tal sensação, mas ao olhá-lo no espelho a única reação foi entrar no chuveiro que já fervia. E ali começou a esfregar com toda força e quanto mais esfregava mais saía e mais vermelho ficava. Desistiu. Terminou seu banho. Enrolou-se na toalha verde. O cabelo pingava. Resolveu por conta do incomodo das marcas dos pingos no chão a fez enrolar somente os cabelos. Passou o hidratante como se passasse chocolate no corpo e se vestiu com o deleite quem almeja servir de presa. Passou um batom cor de boca, um rímel nos olhos, calçou o salto. Foi até a identidade certificar-se de que seu nome era realmente ainda seu nome. É, o que está lá não é Carla.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Gauche

Sou da opinião que existem pessoas que fazem a diferença. Não digo essa diferença senso comum, que todos tentam fazer. Acabar com a fome, com o analfabetismo, com o desemprego e tantas outras mazelas, claro é de extrema relevância, mas creio que todos devam fazê-lo, acho até meio triste ser considerado aquele que faz a diferença quando a perspectiva é essa.
Admiro aqueles seres humanos que têm o dom de fazer o outro feliz a quilômetros de distância. Que fazem um botão se abrir em flor somente com o calor que emanam do corpo. Os que amam pelo simples fato do amor ser belo e necessário.
Ao longo dos meus bem vividos vinte anos, descobri que gente como essa tem pouco por aí, na verdade pouquíssima. Tive a sorte de conhecer algumas delas. Creio que na hora da distribuição o encarregado errou e colocou um contingente maior em uma cidadezinha mineira muito simpática, por isso conheci uma meia dúzia que não cabe nos dedos de uma mão [roubo descaradamente o a linguagem de interior].
Mas dentre esses já poucos tem um ou dois que tocam mais. A primeira vista são anjos tortos, que vivem à sombra e só tem a asa esquerda. De cabelos coloridos e o corpo em mural saíram para serem gauches na vida. Vão despertando o desejo de viver de um modo distinto do que nos é oferecido, mostra-nos novas possibilidades a serem seguidas além daquelas que todos percebem. Não se configuram na massa, têm o prazer de ficar à margem, espiando os acontecimentos e deles tiram todo o sumo, como se a vida fosse uma laranja.
Gosto de suco de laranja, talvez seja por isso que goste tanto de ler na frente da tela do computador o que meus queridos gauches escrevem. Mesmo que eles neguem seu talento Deus sabe se lá por que razão.
Orgulho-me de tê-los ao meu lado, a km de distância e principalmente dentro de mim. Os gauches devem se orgulhar do que são: especiais, pois têm a capacidade belíssima de transformar as coisas só com a existência.
Como diz o ditado à noite todos os gatos são pardos
creio que no centro da cidade
ele se aplique à noite, de dia.
Todo mundo é desconfiado.
Hoje todos usam sapatos
O que dificulta mais as coisas.
E essa chuvinha enjoada de ar condicionado
Não refresca, só deixa mais abafado.
E no seu mau humor
Aí que o alheio fica sem face
E todos só tem um caráter.

Os postes se acendem,
O neon dos lugares históricos dá um glamour amais na decadência
Nesse momento o cuidado deve ser redobrado
O fluxo de bem vestidos é menor
Os bons essas horas não estão mais nas ruas
Uns e outros talvez passem de carro. Rádio e som são fundamentais,
Aqui nada é supérfluo.
Mas se você por infortúnio do destino
For um dos bons gatos do centro da cidade
Procure andar em bando,
Mas não se comunique; vocês são iguais, mas não deixam de ser pardos.
Vai que algum do outro lado está disfarçado?!
É tudo apenas por proteção
Pardos calçados.
Lembre-se, sempre perto deles.Quanto aos outros passe por cima.
É menos um a te pedir comida
E dormir onde deseja sentar

AnnA e OttO

Ana descobria ao lado dele que o mundo era exatamente o jeito que imaginara, o problema é que sempre o via encoberto por uma fumaça de confusão. Descobria que ser do jeito que era não era ruim, amar incondicionalmente poderia ser bom, gostou de saber disso.Antes de Otto surgir em seu ambiente de trabalho a vida era algo mecânico. Acordar, abrir os olhos, levantar... um pé na frente do outro para se deslocar... Vivia assim, no entanto não significa que gostasse de viver e muito menos que acreditasse que esta fosse a maneira correta de viver.Depois daquele dia estranho onde por alguns segundos o planeta Terra parou de realizar seu movimento de rotação e translação aos poucos a mecanização da vida foi dando lugar aos movimentos espontâneos. Movimentos estes que não sabia ao certo de onde vinham e muito menos a razão deles, tinha apenas a certeza que algo mudara e como sempre foi adepta a mudanças não reclamou ou procurou entender. Percebeu o prazer das pequenas coisas, das pequenas realizações, dos pequenos prazeres – tudo tinha um tom de novidade. Além disso, descobriu um prazer especial: o de estar perto de Otto, aquele novo colega de trabalho. Não entendia bem, nem procurava entender [Ana não era muito dada a refletir sobre seus sentimentos], a questão é: a presença desse indivíduo a fazia mais leve, seu riso saia de maneira mais franca e seus olhos se iluminavam mais [ela não os via, claro, mas podia sentir].Esse prazer especificamente cresceu de tal forma que ela começou a estranhar, e às vezes ao vê-lo falar apertava os olhos, os lábios e balançava a cabeça, creio que numa tentativa vã de retirar alguns pensamentos até então nunca passados em sua cabeça. Isso começou ocorrer com maior freqüência e o medo do novo pela primeira vez apareceu em Ana. E o medo a levou a reflexão, todas as novidades e prazeres apareceram depois que a Terra parou. E a partir daí todas as peças passaram a se encaixar perfeitamente.Normalmente sairia correndo para mostrar ao mundo a novidade, no entanto preferiu guardar seu bem mais precioso, o mostraria apenas para o responsável por todas aquelas mudanças, aos outros mostraria somente o resultado dessa novidade chamada amor...

sábado, 8 de novembro de 2008

Juiz de Fora e eu - uma relação conturbada.

Posso dizer com convicção - uma das maiores ondas da minha vida foi retornar a essa cidade. Pela primeira vez em seis anos minha alma voltou. Isso talvez seja pelo fato dela ter saído por completo a pouco [e só descobri por conta de minha vinda].
Andar pelas ruas de uma cidade tão familiar e se sentir tão alheia é um tanto quanto estranho. Me senti realmente de fora, pior me senti como se nunca tivesse estado dentro! Não encontrei os mesmos cheiros, os sabores estavam diferentes [exceto o da coxinha de frango da Pepita, essa é imbatível] , nem a chuva que dava um charme todo especial a cidade agora a deixa engarrafada e sem graça. As janelas do Misailidis eram maiores ebonitas. Os filmes do cinema não eram tão atrasados!
O Cine Theatro Central [esse merece um parágrafo a parte] lindo, com a mesma imponencia, vazio, sendo montado me levou a um mundo que não existe mais. O vibrante Ballet e toda sua correria e gana por por um espetáculo feito por nós se transformou em um plácido "adajo". Fiquei sentada na platéia por alguns minutos olhando cada escultura e afresco, testemunhas de tantas alegrias vividas ali. Foi uma onda forte, que pela primeira vez não me afogou.
Mas no meio de tanta estranheza, tiveram coisas que me trouxeram grande conforto e sensação de pertencimento: meus amigos. Todos estão diferentes, adultos, os dois e eu deixaram nomes pela estrada e em contrapartida carregam muitas outras coisas consigo. O encontro desejado por todos durante tantos anos nos fez retomar os nomes por algumas horas sem deixar cair todas as outras coisas que pegamos. A saudade é tão grande que não dará tempo de saná-la... não sei, só sei que é bom tê-los.
Estava precisando dessa vinda para retomar o prumo. Me procurei em alguns lugares, não me encnotrei - só que por sorte há outros lugares que mudam e nos levam junto. A mão de um amigo, o braço de outro e nem importa tanto mais se os meus pontos de referência estão com um gosto meio estranho, se andam sendo pintados e derrubados por aí porque eu sei que tem gente com boa memória podendo me ajudar sempre.