segunda-feira, 15 de dezembro de 2008


Lúcia não tinha idéia do que o seu colega de grupo falava. Na verdade nem fazia idéia de quem falava. Às vezes conseguia identificar que era o professor, mas nem isso a fazia fingir interesse. Com a sua blusa levemente avermelhada, seu casaco vermelho, suas unhas berrantemente carmim, jeans claríssimo e seu allstar rosa, que já fora vermelho, que a acompanha desde a sétima série; apenas prestava atenção nas pessoas a sua frente. A cara de desanimo e desinteresse delas parecia contaminá-la e a cada segundo se debruçava mais sobre a carteira escolar da universidade [pelo menos não era verde água como a das escolas, não existe nada pior que essa cor].
O gorducho dormia de boca aberta lá no fundo, Maria era bem mais feia do que aparentava ser e infelizmente as plásticas foram ineficazes. Tudo aquilo a inervava severamente, sua vontade era gritar e sair andando em meio a chuva. As vozes continuavam a falar, falar e falar sobre o assunto mais desinteressante da maneira menos interessante possível. Foi quando um barulho lhe chamou atenção: o barulho do cadarço do Antônio, o nerd de sua turma batendo, no chão ao andar. Aquela cena lhe deu nojo. Antônio, aquela figura branca e esquálida, andando desengonçadamente em direção de Júlia, sua namorada tacanha.
A força maior do barulho sugou sua atenção para a cena bizarra que ocorria ao lado do professor [este falava nervosa e afetadamente discursando sobre a matéria, colocando em termos acadêmicos tudo o que os outros já tinham dito]: o namorico de selinhos e carinhos e todos os inhos ridículos de um casal.
As duas horas pareceram uma eternidade onde cada segundo pareceu uma tortura aos olhos e aos ouvidos de Carmem. O que lhe restou foi submergir em seus pensamentos, ficando lá até que o último indivíduo saísse da sala. Com ela vazia levantou, ainda com vontade de gritar e andar pela chuva, mas se limitou a se certificar que pegou o guada-chuva.

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