quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Arrumava a mala como um ritual de passagem, como se partisse para nunca mais voltar. Procurou seu creme de barbear preferido, olhou a validade – que estava vencida. Buscou pela sua blusa pólo cinza, e várias outras coisas, achou lembranças que estavam na bagunça do armário apertado. Ficou vulnerável, ainda mais pela época do ano... tinha o mau hábito de repassá-lo, sempre empacava em algum capítulo. Esse ano especialmente evitava fazê-lo, pois já sabia exatamente em que página ficaria dias a fio, aquela que evitava falar até mesmo com sua terapeuta: sua última namorada, Joana.

Arrumava a mala e pensava nos planos que fizeram juntos para a viagem que agora ia sozinho a trabalho. E ao tentar se achar em meio suas coisas encontrava fragmentos da mulher que amou. Fragmentos esses que mostravam o quão diversa era, característica que fazia Benício se apaixonar a cada minuto, amava todas as mulheres condensadas naquele furacão. Furacão que um dia olhou em seus olhos e colocou os pingos nos is dizendo de maneira melancólica “Desculpe, eu me enganei, eu não te amo.”. Nem ao menos disse adeus, ela nunca gostou de despedidas. Dela sobrou somente a toalha que desenrolou dos cabelos ao sair. A Benício coube apenas o silêncio, a falta de voz, a mente atordoada, a angústia de não tê-la segurado e dito todas as frases confusas que passavam por seu coração acelerado.

...

Ele se recuperou rápido, fingiu para todos que ele, homem viriu, cansou da mulher frágil e possessiva que vivia ao seu lado. Abafou toda e qualquer possibilidade de alguma outra mulher entrar em seu caminho, decidiu viver sozinho, pelo menos até aquele momento. A cada roupa posta na mala tinha o ímpeto de ligar para Joana e dizer “Estou indo a Blumenau, quer algo de lá?”, só para descobrir se ainda merecia uma resposta. Talvez não o fizesse por medo, medo de não obter resposta alguma ou pior ainda, medo de escutar“Sim quero! Traz para mim...” e simplesmente descobrir que Joana não era aquele furacão.

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