quarta-feira, 28 de julho de 2010

Coveniências


Estava no altar. Véu, grinalda, flor de laranjeira e tudo mais. O padre falava e ela pouco escutava. Escutava os sussurros dos convidados e só pensava no fato de não dormir em sua antiga cama. Começou achar tudo aquilo uma palhaçada, teve vontade de fumar. Mas eu não fumo! Ai meu Deus! O que está havendo comigo?

Maria Catharina?

Ãhn?!

Você aceita Jorge Alberto Albuquerque Souza e Silva Neto como seu legítimo esposo querida?

Ãhn?! Ao olhar não reconheceu a figura enfadonha que segurava sua mão. Teve nojo. Aquele cabelo encharcado de gel e partido ao lado, milimétricamente penteado. Pensou em João Pedro e lembrou da música “Mais uma dose” do Cazuza. Ah! Jão Pedro foi o primeiro que demonstrou vontade de devorá-la. Ali, no meio de um shopping de uma cidade de interior em MG. Ela, claro teve medo. Mas era totalmente previsível, tinha 12 ou 13 anos estudando em escola católica e namorando um menino de família, do tipo de Jorge Alberto, chamado Josué. Queria encontrar JP novamente e terminar naquele shopping o que ele tentou inutilmente começar. Olhou para os lados, riu das cores dos vestidos das madrinhas. Puta Merda! Fui eu que escolhi essa merda!? Olhou suas mãos, levantou o vestido estilo Grace Kelly para ver seus pés. Socorro!!!! Minhas unhas pintadas de branquinho!!!!!

A mãe já olha para filha amedrontada, o pai desesperado. Todo aquele dinheiro desperdiçado, anos juntando para que a filha casasse. O pai fez questão de pagar todo o casório, não usou um centavo dos euros de Jorge Alberto. A mãe pensava no que iria sair na Caras, na Quem e na Tititi, a imprensa em peso iria colocar na capa as bodas de sua filha – um sonho que poderia desmoronar a qualquer momento.

O pai do almofadinha branquicelo tentava manter a calma, mas não conseguia esconder a alegria. Não que desgostasse de Maria Catharina Holanda de Bragança, de família de nome, entretanto extremamente decadente. Era a oportunidade de dar fidalguia a seus euros, mas tal fato não o falicitaria na política, apenas satisfaria seu ego burguês. Se ela desistir ele pode casar com Josephine Coutinho, filha do patrocinador do partido, daí ninguém me segura! Tadinha, ela é feia que dói, sem sal e nem açúcar – na verdade sem tempero algum, Maria Catharina é que é mulher vistosa, mas juntar a família Albuquerque Souza e Silva com a família Coutinho seria sensasional. Maria Amélia tinha que ter tido competência para segurar as outras barrigadas, isso sim, desse modo poderia fazer tudo isso, não dependeria só desta criatura.

Maria Amélia já chorava desesperada com medo das capas de revista. “Filho de Depudado Federal é abandonado no altar”. Ou então: “Ao invés do sim do ano, o silêncio como resposta”. Se isso acontecer nunca mais vou poder aparecer no clube!!!! Responda logo mon amour!

Jorge Alberto simplesmente esperava calmamente nesses segundos em que Maria Catharina permanecia muda. Um sorriso amarelo, olhos brilhantes , e postura de um idiota. Sua mente se manteve clara, ele realmente não percebeu o titubear da noiva.

Quanta hipocrisia! Pensou Maria Catharina. Soltou uma gargalhada, olhou para trás e viu um amigo no estilo de JP, eles tiveram um caso no período em que tinha o codinome de Natasha e levava a minissaia na bolsa para trocar na rua. Senhor padre, com todo respito, o senhor teria um trago de conhaque?

Os murmúrios desapareceram todas as mentes se esvaziaram, a de Jorge Alberto virou um turbilhão.

Maria Catharina saiu com ar rebolativo, soltando as madeixas e ao passar por aquele amigo não pode conter o desejo de dar-lhe um apertão na bunda.

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